Hélio Cabral: “O plano de marketing de hoje em dia deve ser preparado com a flexibilidade de um atleta de alta competição”
«Inspirado na natureza… Orientado pela estratégia e criatividade… Apaixonado pelo marketing.» É assim que Hélio Cabral, trinta e sete anos, se apresenta e posiciona atualmente no mercado enquanto marketeer. Após um longo percurso como Diretor de Marketing numa empresa que atua na indústria dos substratos profissionais, Hélio Cabral decidiu redirecionar o rumo da sua vida profissional e trabalhar como freelancer, apostando na sua marca pessoal. Conheça mais sobre este entusiasta do digital que defende que “o maior desafio é conseguir que as empresas invistam também no digital, que há muito deixou de ser uma aposta gratuita.”
O que é que te apaixona mais no marketing?
Atualmente o marketing vive de mudanças constantes. Já não basta fazer o plano de marketing anual e viver em função desse mesmo planeamento. O plano de marketing de hoje em dia deve ser preparado com a flexibilidade de um atleta de alta competição.
Mais do que definir uma estratégia a longo prazo, é preciso estarmos muito atentos ao que acontece internamente, à nossa volta e no mundo.
Ao marketing de hoje é exigido analisar, interagir, saber adaptar-se a diferentes contextos, inovar, ser ágil.
Portanto, o que mais me apaixona é o desafio de reunir todos estes ingredientes e criar a receita do sucesso, na maior parte das vezes, fazer muito com pouco, o que apela à nossa capacidade criativa e por outro lado conseguir envolver as marcas / empresas com o seu público, passando a sua mensagem, num mundo “estupidamente” entupido de informação.
Qual é a marca no mundo com a qual te identificas mais, pessoal e profissionalmente?
Posso dar o exemplo da hawkers, para mim uma das marcas de referência no que diz respeito a trabalhar o “B2C” praticamente só digital. O desafio torna-se maior quando falamos de uma marca que vende a nível mundial e torna tudo mais complexo no que às análises de perfis diz respeito, as tão faladas “personas” do mundo digital.
Consegue ser uma marca descomplicada, com mensagens simples e claras e sem processos complexos. É uma marca jovem, assente num modelo de negócio bem definido e com apenas 4 anos, já faturam mais de 15 milhões de euros ao ano. É muito óculo vendido. 🙂
Qual é a marca com a qual gostarias de trabalhar e ainda não tiveste oportunidade?
Acima de tudo uma marca que tenha presente não só, mas também uma mentalidade digital, ou seja, tenha a perfeita noção que esse é o presente e o futuro, tanto no B2B e B2C.
Por isso, não tenho nenhuma empresa / marca que gostasse de trabalhar em especial, mas todas as que queiram embarcar nesta viagem digital.
Tens uma marca pessoal criada com seguidores assíduos e fiéis. Quais são os conselhos que podes dar para quem, como tu, quer criar a sua própria marca pessoal?
Atreve-te a mudar! E para mudar é preciso termos bem definido na nossa mente o que queremos para nós e qual o caminho a seguir para o conseguir. Portanto vai ser necessária muita força de vontade, capacidade de superação e empreendedorismo.
Paixão: é precisa paixão pelo que fazes e mostrar o teu lado humano, caso contrário, na minha humilde opinião, as coisas podem não resultar tão bem. Porquê? Porque mais do que as pessoas “comprarem” o que tu fazes, elas compram o porquê de o fazeres.
Em quem te inspiras para trabalhar todos os dias essa mesma marca?
Na natureza de uma forma geral e as árvores, em particular!
Na minha necessidade de fugir do padrão, principalmente numa área em que muitas vezes tudo parece idêntico.
Sendo o marketing digital o meu foco principal, com tantos termos, tecnologias e ferramentas, a árvore é a metáfora perfeita para demonstrar de uma forma simples, todo o universo de soluções que existem, ordem e prioridades.
A árvore representa a contínua evolução, o crescimento sustentável, sempre em ascensão. Uma marca forte é como uma árvore: para crescer precisa de cuidado constante para colhermos o resultado pretendido.
Na natureza, os anéis dos troncos simbolizam a idade da árvore. Para mim, simbolizam os meus anos de conhecimento e experiência.
Estão dispostos a plantar? Ou querem apenas colher? Lembrem-se que só vão colher o que plantarem.
Do teu percurso profissional, qual é o momento que consideras mais relevante na tua carreira para chegar ao ponto em que estás atualmente?
Sempre fui um apaixonado por tecnologia e um dos objetivos foi implementar isso enquanto diretor de marketing que fui, durante doze anos. Na altura dos pda’s, a equipa comercial já realizava relatórios e encomendas através de um software criado para o efeito. Como empresa líder em Portugal, a inovação tinha de ser constante e não só nos produtos. Atento ao que poderia ser o futuro, trabalhei na implementação de numa loja online num mercado competitivo, principalmente por player’s externos.
Fomos a primeira empresa do setor a implementar a venda online e em 2007 esse esforço foi reconhecido, com a distinção do prémio “Iberflora Innovación”, durante a feira Iberflora – Feira Internacional de Valência, dado a empresas que contribuíam para o desenvolvimento do setor. Este feito para a empresa que representava e também para Portugal, já que eramos a única empresa portuguesa a concorrer, foi o “click” para perceber que este seria o caminho a seguir.
És um profissional freelancer. O que costumam dizer os teus clientes de ti? Qual foi o feedback mais positivo que tiveste até então? E o menos positivo?
Com pouco tempo nesta “nova vida” – pouco mais de quatro meses, julgo poder afirmar que estou a conseguir deixar um pouco da minha “marca”, quer pelo “feedback” dos clientes, quer pelo “feedback” dos seus clientes. Assim de repente, lembro-me especialmente de 2 momentos que me deram ainda mais confiança e força para perceber que este é o caminho: “o hélio devia ter aparecido mais cedo…” ou receber um telefonema a comunicar que uma simples campanha de email marketing estava a gerar encomendas. Existem outros, mas estes foram especiais, talvez pelo “timing” em que os recebi.
Relativamente ao menos positivo, o “tirar o pé do acelerador” :). Perdoem-me, mas eu sou assim. Não que queira fazer tudo ao mesmo tempo e rápido, mas porque o mercado e a concorrência não param. E porque gosto de sentir alguma pressão. Desta forma não ficamos acomodados e procuramos fazer sempre mais e melhor.
O que te diferencia em relação aos demais profissionais freelancers?
Somos todos iguais e todos diferentes, cada um com os seus valores e a forma como os aplica. Valores esses que ditam comportamentos e atitudes no nosso dia-a-dia e dão suporte às formas de relacionamento perante os clientes e sociedade. É aqui que para mim poderá residir a maior diferença entre os vários freelancers, que têm tendência a aumentar, segundo estudos recentes.
Eu procuro alicerçar uma relação com o cliente com base em alguns valores, como a proximidade e confiança.
Por isso, vestir a camisola do cliente é algo natural para mim, pois um cliente tem de ser muito mais que um cliente. É um parceiro, um amigo. Como tal, é fundamental pensar e sentir-me como parte da empresa. Só assim será possível elaborar e implementar estratégias de sucesso. E para isto acontecer, é preciso paixão pelo que fazemos!
O que acreditas ser necessário ter a nível de competências técnicas e soft skills para ser um marketeer de referência? Porquê? Explica, por favor.
Destaco a assertividade, capacidade de adaptação e resolução de problemas e de estudar muito bem o mercado para conseguir antecipar cenários. Nos dias de hoje, vivemos num constante dinamismo e mutação que ocorre a uma velocidade bastante elevada. Desde a dinâmica dos negócios, até às ocorrências políticas, sociais e culturais, o mundo hoje em dia é um lugar de acontecimentos muito rápidos, que num curto espaço de tempo são capazes de mudar a gestão do seu meio envolvente, incluindo toda uma estratégia empresarial, ainda que delineada com o mais profundo rigor e detalhe.
Por outro lado a necessidade de conhecimentos digitais está a crescer: a Comissão Europeia prevê que possam existir até 825 000 ofertas de emprego não preenchidas para profissionais das TIC em 2020.
Desde gestores SEO, SEM, de comércio eletrónico, redes sociais até analista de dados, o mundo digital é também ele cada vez mais dinâmico e por isso é necessário uma procura contínua de conhecimentos. E destaco em particular a questão de análise de dados, muito importante no momento de tomar decisões. O digital permite que as nossas decisões sejam baseadas em factos, permitindo rentabilizar melhor os recursos disponíveis e obter uma noção mais fiel do nosso retorno de investimento.
Destaque para o networking. O relacionamento com profissionais de marketing, especializados em diferentes áreas é fundamental para evoluirmos.
Mas como conseguimos tudo isto de forma produtiva e eficaz? Através de atitudes positivas, capacidade de resolução de problemas, uma boa gestão de tempo, capacidade de inovar e principalmente trabalho de equipa, muito. Desengane-se aquele que pensar que consegue fazer o seu caminho sozinho.
Como funciona o teu processo criativo? Como te inspiras e motivas diariamente para manter a qualidade das ideias e do conteúdo?
Basicamente, através de muitas pesquisas diárias e bastante leitura para ir retirando aquelas ideias chave que se adequam quer ao meu projeto, quer aos dos clientes. Como são leituras bem distintas, procuro sempre encontrar um compromisso entre as ideias / informação que retiro de uns para os outros. Desta forma, consigo rentabilizar o meu tempo e ser mais eficiente, ao conseguir desenvolver trabalho para todos em determinadas alturas.
Estou também sempre atento ao que me rodeia… se os “smartphones” falassem connosco, com certeza o meu diria “mais fotografias e filmes não”. 🙂
Falar com pessoas. Nada melhor para desbloquear uma ideia, com pontos de vista diferentes e valiosos.
Por fim, escrever. Adoro escrever.
Tens um projeto sustentável e sólido a nível de marketing offline e marketing digital. Quais são os teus maiores objetivos e desafios a que te propões no futuro?
Mais do que elaborar estratégias e oferecer soluções integradas de marketing e comunicação, procuro entender o cliente e oferecer soluções à sua medida e não standerizadas.
A mudança dos hábitos dos consumidores é um facto inegável. Se as empresas / marcas pretendem acompanhar as exigências do mercado, estar online de uma forma séria é imperativo.
É fácil concluir que as empresas / marcas que estão online, têm maiores hipóteses de alcançar novos clientes, não esquecendo da complementaridade entre o meio online e o offline.
Lembrem-se, o online não substitui o offline, apenas o reforça. O maior desafio é portanto, conseguir que as empresas invistam também no digital, que há muito deixou de ser uma aposta gratuita.
Se não fosses marketeer, o que serias? Porquê?
Agricultor. 🙂
Assim como no marketing, aqui também é preciso fazer as coisas com paixão, semeando, cuidando, acompanhando os resultados, para fazer crescer e por fim colher aquilo que plantámos, com os resultados e rentabilidade que pretendemos.